sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Notas sobre O Som e a Fúria e Coisas Secretas


0. A partir de uma conversa com Bruno Andrade;

1. Um filme "corbusieriano": O Som e a Fúria. Pela sua construção geral, que absorve a arquitetura dos banlieues. Um filme painel, em que somos conduzidos de "quadrado em quadrado";

2. O drama do irmão mais velho é não enquadrar-se naquela vida, querer sair dali;

3. Mais um componente de arquitetura: trata-se de um mundo ruindo. O clímax é a sua implosão;

4. O mundo que virá depois, pelas mãos daquelas gangues de moleques, será um mundo de ruínas: "cada um por si e Deus contra todos";

5. Coisas Secretas começa onde O Som e a Fúria termina: Nathalie (assim como Nomi Malone) é uma personagem solitária, errante, um Édipo exilado de Tebas (= os banlieues);

6. Édipo ou Antígona? De Antígona, ela herda o "fight the power" (Christophe é o seu Creonte, dois déspotas). De Édipo, uma "resignação" diante do destino (furar os olhos = jogar gasolina sobre si mesma);

7. A trajetória de Nathalie é totalmente fortuita: parece que ela tem o controle, mas isso é um engano;

8. Édipo e Nathalie rompem os limites de dois tabus: Édipo se relaciona com a única pessoa que ele não podia, sua mãe; Nathalie, com o único homem que existia acima dela, Christophe;

9. Christophe é o tabu em pessoa: além da relação incestuosa dele com a irmã, é narrada no filme uma história de quando ele era criança e ficou estagnado por semanas diante do cadáver de sua mãe (a referência de Brisseau para escrever esse episódio veio de Norman Bates, de Psicose);

10. Christophe, portanto, coloca à prova o lema de Nathalie: "ousar". Até onde é possível ir?

11. "Ó Liberdade, quantos crimes cometem-se em teu nome?" (Manon Roland, participante da Revolução Francesa, que em 1793 morreu guilhotinada). Christophe é isso, e Nietzsche, e Prometeu.

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