segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Notas sobre O Exorcista


0. A partir de conversas com Josias Teófilo e Lucas Baptista, depois de rever o filme no Cinemark;

1. O plano que fecha a parte ambientada no Iraque sintetiza o filme: os dois pólos do embate, o bem e o mal, encontram-se cara a cara;

2. O diabo começa a se manifestar em Regan depois da cena em que ela ouve escondida a mãe gritando ao telefone com o pai ausente. Será que a vontade da menina de chamar a atenção do pai foi a brecha que o diabo encontrou para entrar nela?

3. O fato é que a presença do diabo se alastra porque isso foi permitido a ele por todos;

4. O diabo é um reflexo, um desdobramento de vários problemas daquelas pessoas: a puberdade da garota, a crise espiritual do padre Karras e o ateísmo da mãe e dos médicos, que cogitam até tratar-se de uma invasão alienígena antes de considerar ser uma possessão demoníaca;

5. As cenas de diálogo no clímax do filme, com o diabo tentando dobrar os padres e estes lutando para resistir à sua retórica, exemplificam o seu método: aproveitar-se das falhas das pessoas;

6. Quando o padre Karras e o diabo conversam pela primeira vez, este tenta convencer o outro de que a sua mãe está no inferno. O padre resolve perguntar-lhe, então, pelo nome do meio da mãe. Sem saber a resposta, o diabo é "pego na mentira" e por isso vomita na cara do padre;

7. Regan não tinha conhecimento de que a mãe do padre falecera recentemente, o que faz ele constatar que se trata mesmo do diabo. Mais do que isso, porém, a menção à sua mãe faz o padre acordar novamente para o combate eterno do qual ele estava à beira de desistir, mas que pode levá-lo a reencontrar a sua mãe, cuja morte é a principal causa de sua depressão;

8. O sacrifício do padre, prova de sua "reconversão", é a derrota do diabo;

9. Lucas: "Nesse filme, o Friedkin personaliza o mal. Em O Comboio do Medo, o mal é a própria máquina narrativa, igualada ao destino, a uma lei quase de karma." O mal para Friedkin é muito real.

10. Lucas: "O Exorcista é o inverso de Céline." Alguns aspectos que o filme de Friedkin tem em comum com o filme de Brisseau: as referências à antiguidade, a ambientação na casa, a relação entre uma mulher mais velha e outra mais jovem (mãe e filha), as cenas de levitação, os planos finais mostrando janelas (em um, fechada; no outro, aberta).

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