"À beira de uma pessoa que não se conhece e se quer conhecer - uma pessoa nova, uma nova pessoa - tenho medo. Medo que a pessoa não seja tão nova como a imaginei ser, medo que eu seja muito mais velho do que me imaginei ser. Medo que, afinal, não haja novidade, medo que o encontro se volva em desencontro, medo de não conhecer, nem ser reconhecido. Medo que os séculos que nos contemplam, do alto de pirâmides, morada de mortos, não gostem do que contemplam e nos dêem pontapés debaixo da mesa. À beira de uma pessoa que se conhece bem, mas está muito diferente da pessoa que se conheceu - uma pessoa antiga, uma antiga pessoa -, tenho medo. Medo de já não reconhecer aquela pessoa, medo de ter mais saudades do que presença, medo do tempo que passou e que passa e do que, ao passar, faz às pessoas. Medo que o encontro seja também desencontro, medo igual de não reconhecer, nem ser reconhecido. "Não éramos assim." Mas agora somos. Medo de ver a morte a tomar conta de tudo e de não saber receber os poderosíssimos sinais de vida de um olhar não cerrado nem serrado."
João Bénard da Costa
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