1. Carlito Brigante localiza-se no centro de uma reta vertical em cujo pólo superior está a sua mulher Gale e, no pólo inferior, o seu advogado e amigo Kleinfeld;
2. Gale e Kleinfeld são opostos entre si. Enquanto ele se afunda em drogas, fechando sua visão em si mesmo, ela engravida, e por isso passa a projetar-se sobre um outro alguém, o bebê em sua barriga;
3. Kleinfeld é centrípeto, Gale é centrífuga.
4. A alma de Carlito é disputada por esses dois pólos de forças antagônicas. A tração em direções opostas, como numa corda, gera uma espiral: esse é o símbolo do filme;
5. A espiral está presente nos giros de Gale ao dançar, na cena em que ela e Carlito se beijam (em que, no mesmo plano, ele passa da bestialidade ao afeto), na construção temporal do filme (em flashback), no uso de steady-cam na boate ou na estação de metrô;
6. Numa espiral, é difícil aferir se se está "indo" ou "vindo". Os movimentos incessantes de câmera unem-se à incerteza de Carlito acerca de nunca saber se está a salvo ou em perigo;
7. As espirais são constantes reviravoltas. Na última cena, quando tudo parecia perdido e Carlito achava que havia fracassado ("I tried the best I could"), ele encontra o Paraíso;
8. Como em A Divina Comédia de Dante, Carlito atravessa os círculos (espirais?) do Inferno (a prisão da qual ele sai no começo do filme), passa pelo Purgatório, até chegar ao Paraíso.
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