MARLENE
Quando
Marlene entrou em coma,
tudo
na casa adoeceu.
Quando
Marlene entrou em coma,
tudo
na casa adoeceu.
Os
sintomas, pela cozinha,
começavam:
gordura podre
cobrindo
os pratos e o balcão.
começavam:
gordura podre
cobrindo
os pratos e o balcão,
xícaras
sujas e vazias
de
café, formigas em festa
faziam
piquenique sobre o açúcar.
de
café, formigas em festa
faziam
piquenique sobre o açúcar.
No
mais, toda a casa fedia,
como
ferida gangrenada,
infectando
quarto por quarto.
como
ferida gangrenada,
infectando
quarto por quarto.
Nos
jarros da sala, as flores,
cabeças
pendidas, seriam
corpos
de bebês enforcados.
cabeças
pendidas, seriam
corpos
de bebês enforcados.
Mas,
lá, nas fotos das paredes,
nada
mudou, como se os mortos
não
tivessem nada com isso.
nada
mudou, como se os mortos
não
tivessem nada com isso.
Doente,
também, o terraço:
folhas
secas, sacos de plástico,
levados
por ventos da rua.
folhas
secas, sacos de plástico,
levados
por ventos da rua.
Ceifou,
o coma de Marlene,
até
as plantas mais longevas
do
mirradíssimo jardim.
até
as plantas mais longevas
do
mirradíssimo jardim.
Marlene
nasceu nessa casa,
sobrevivendo
a pais e irmãos,
hoje,
talvez, parta sozinha.
sobrevivendo
a pais e irmãos,
hoje,
talvez, parta sozinha.
Com
seus pianíssimos dedos
tocava
Mozart: mesmo enferma,
o
Banco levou-lhe o piano.
tocava
Mozart: mesmo enferma,
o
Banco levou-lhe o piano.
Caso
desperte de seu coma,
Marlene
vai querer saber
quem
destruiu sua casa.
Marlene
vai querer saber
quem
destruiu sua casa.
– Alberto da Cunha Melo